Já posso outra vez
encara teu brilho
aquela paixão
hoje é um rio tranquilo
Vazante do meu sentimento
afluente de pensamento
açude barrento
que a chuva arrasou
E já não é nem mais barrento
já não é ressentimento
apenas um nervo morto
da minha dor
Já posso outra ves frequentar as ruas
baijar outras bocas que não a tua
já posso encarar teu narciso
e te namorar o sorriso
agora com os olhos
nunca o coração
Mentindo que não fiquei cego
apenas pra afagar teu ego
e te desviar das linhas
das minhas mãos
A realidade mais crua
é que as nossas vidas são duas
e que a tua pele
não foi feita pro meu lençol
Consigo enxergar na tua beleza
algo assim de lua
que para brilhar
precisa que se apague o sol
Tentei me anular
juro que não pude
meu eu
está cheio de juventude
saí desse fundo de poço
e te esvaziei dos meus bolsos
tirei da gaveta
da minha ilusão
Mas me tornei a pôr teu retrato
em cima da mesa do quarto
apenas pra fotografar
nossa separação.